quarta-feira, 24 de outubro de 2012

As vozes que eu quero ouvir

Eu comecei este ano viajando pela África com Bono visitando lugares não visitados há uma década. Um deles era no norte de Gana. Gana é muitas vezes visto como uma história de desenvolvimento de sucesso. Ele tem uma democracia estável, rápido crescimento da economia e já atingiu o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de reduzir pela metade a pobreza extrema. Há rumores sobre o local – eles estão na estrada de saída da ajuda. Mas este sucesso não chegou a todos e o norte de Gana, em particular, se sente deixado de fora do progresso em todo o país, tal como aconteceu há uma década.

Nesta visita ao norte fizemos uma parceria com Jeffrey Sachs e visitamos o Distrito Kpasenkpe, onde conhecemos Fatahiya Yakubu, uma enfermeira de 24 anos, trabalhando duro para ajudar a comunidade. Ela é uma de apenas duas enfermeiras que servem 30.000 pessoas em seu consultório. Ela claramente poderia fazer com alguma ajuda, como poderia a toda comunidade.

É por isso que eu estou animado, pois o Departamento do Reino Unido para o Desenvolvimento Internacional já começou a trabalhar, a partir desta semana, em Kpasenkpe, através do método Aldeias do Milênio e com a Autoridade Regional de Desenvolvimento Acelerado Savvanah. O projeto  Aldeias do Milênio é uma experiência importante. Acompanhar uma aldeia e distrito em um período e trabalhar em todos os setores – investir na educação, agricultura, saúde, governança – ao mesmo tempo.

A abordagem não tem sido imune às críticas e muitas lições têm sido aprendidas ao longo do curso dos projetos Vilas do Milênio em outras partes da África.

Com base neste trabalho, é também crucial que este último programa para Kpasenkpe seja, de forma independente, rigorosamente fiscalizado através de controle aleatório, de dados disponíveis publicamente e os resultados publicados para que os contribuintes britânicos possam ver como seu dinheiro está sendo investido e quais resultados estão sendo ou não alcançados.

Ajuda por si só não é a resposta para o desenvolvimento – as políticas que promovem a transparência, a boa governança, o comércio, o investimento e o crescimento inclusivo são igualmente importantes – às vezes até mais. Mas a ajuda inteligente, estrategicamente utilizada, pode salvar vidas em curto prazo e ajudar a catalisar as comunidades e economias nacionais para prosperar em médio e longo prazo.

O tipo de monitoramento independente deste projeto Aldeias do Milênio será examinado para que se torne uma prática mais generalizada frente ao setor de desenvolvimento. No geral, a comunidade de desenvolvimento precisa se tornar mais parecida com o setor empresarial na forma de experimentar, enfrentar tanto o sucesso e o fracasso bravamente, correr riscos, ser empreendedora, aprender lições e se adaptar. Ajuda inteligente, do tipo que nós defendemos para a ONE, é um investimento que mede resultados, que se mantém responsável pela entrega, que oferece a melhor avaliação independente do que funcione e, mais importante, honra as lutas reais destes cidadãos, por se abrirem a respeito do que não funciona.

Como parte de nosso próprio compromisso, nós iremos acompanhar o andamento de Kpasenkpe e Fatahiye e outras comunidades e indivíduos em todo o continente. Queremos saber o que as heroínas como Fatahiya fazem a seguir e como elas irão aproveitar e obter as oportunidades que devem surgir como resultado, principalmente, de seus próprios esforços – apoiados por britânicos, de outros programas de ajuda às nações e outras políticas que abrangem assuntos como comércio e transparência. E queremos ouvir as suas preocupações e críticas ao projeto também. Nós publicaremos suas histórias neste blog.

Queremos dar a essas vozes vitais uma plataforma para que possamos levar suas opiniões diretamente aos líderes, como a reunião do G8, ou as Cimeiras Anuais da União Africana, e dar às pessoas mais pobres a oportunidade de dizerem aos líderes o que deveriam estar fazendo para ajudar a acabar com a pobreza extrema e a fome.

Estas são as vozes que eu quero ouvir. Espero que você também. Portanto, fique atento ao blog ONE para mais.

Por Jamie Drummond
Versão em Português: Mônica Brito

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Vozes Africanas: Memuna Sandow

Antes de me tornar deputada distrital em 2009, eu já estava trabalhando com a minha comunidade por anos, especialmente com as mulheres. Mas eu cheguei a perceber que, apesar do meu trabalho árduo, sem uma posição oficial, a minha capacidade para efetuar uma mudança seria sempre limitada.

Se você não é uma deputada, se você vai a qualquer lugar para dizer alguma coisa, eles irão lhe perguntar: “Quem é você?”. Mas tudo isso mudou quando fui eleita para representar as comunidades de Wulugu, Silinga e Nabari em âmbito distrital. Agora em qualquer escritório que eu quiser entrar, eu entro, e lhes digo a que eu vim para, e se eles podem ajudar ou não podem, que eles me deixem saber.
Memuna Sandow é deputada do Distrito Oeste de Mamprusi, norte de Gana.
Como uma de apenas cinco mulheres no grupo de 43 membros da assembleia, estou especialmente determinada a ter minha voz ouvida. Muitos homens na comunidade resistem à ideia de mulheres na liderança. Eles acreditam que, se uma mulher recebe a posição mais elevada, ela não irá respeitar o marido, ela será arrogante. Então, por causa disso alguns homens recusam que suas mulheres saiam e se transformem em líderes. E mesmo meu marido tendo me apoiado desde o início, sofri intimidações e insultos durante a campanha. Mas as mulheres da minha comunidade me ajudaram a perseverar.

Como um membro da assembleia, eu me reúno regularmente com as comunidades para saber o que elas precisam e depois advogo, em seus nomes, com o governo e outros potenciais patrocinadores. As comunidades rurais que eu represento tem uma população de 1700, mas nenhuma delas tem um centro de saúde, as escolas estão em condições precárias e faltam professores treinados, a eletricidade não está disponível e as fontes de água são inadequadas, especialmente durante a estação seca.

Nos próximos anos, pressinto as unidades de saúde a uma curta distância de todos, o abastecimento de água suficiente e acessível, e energia elétrica para permitir que as comunidades se conectem com o mundo. Hoje em dia, é computador em toda parte. Sem eletricidade, você não pode trabalhar em um computador. Você usa o computador para navegar, encontrar os amigos, para descobrir o que está acontecendo no mundo e até mesmo para encontrar fontes de apoio para as necessidades da comunidade.

A educação é um componente fundamental: eu quero ver edifícios escolares melhores dirigidos por professores treinados e comprometidos, de modo que todas as crianças, especialmente as meninas, possam ser habilitadas com a educação. Em última análise, são as mulheres que cuidam de suas famílias e comunidades. É tão importante capacitar e educar a menina. Se um menino recebe dinheiro, ele vai casar, ele vai beber. Mas se uma garota recebe dinheiro, se uma menina recebe boa educação, ela vai construir uma casa para a família, ela vai cuidar da família. Ela ainda vai cuidar de outras pessoas que chegam a ela.

Com contribuições de cidadãos africanos que vivem em comunidades afetadas pela extrema pobreza, a série ONE Vozes Africanas vai seguir o curso para dar uma melhor compreensão dos desafios do dia a dia que eles enfrentam e também para acompanhar as mudanças que ocorrem ao longo do tempo. Saiba mais em one.org/africanvoices (em inglês).

Este post foi gentilmente cedido pelo Projeto Aldeias do Milênio

Pela Convidada Memuna Sandow
Versão em Português: Mônica Brito