quinta-feira, 26 de julho de 2012

Momentos Mandela: Minhas observações sobre a liderança africana, paz e desenvolvimento

Semhar Araia, fundadora e diretora executiva da Rede Diáspora de Mulheres Africanas (link em inglês Diaspora African Women’s Network), reflete sobre algumas das lições que aprendeu com Nelson Mandela ao longo dos anos.

“Sua liberdade e a minha não podem ser separadas. Eu voltarei.” - Nelson Mandela

De vez em quando, é dada ao mundo a oportunidade de testemunhar as verdades fundamentais da vida através do percurso de uma única pessoa. De tempos em tempos, as ações dessa pessoa, suas palavras e atos e sua busca por uma maior existência deixa um legado duradouro em sua comunidade e em seus colegas compatriotas. No mais raro das vezes, a busca dessa pessoa por paz, justiça e igualdade ressoam tão profundamente que é carregada nos corações e mentes de cada homem, mulher e criança na Terra.


Isso é o que Nelson Mandela significa pra mim.

Para muitos africanos na diáspora, a vida de Madiba é uma fonte infinita de aulas e momentos de aprendizado. Seu lugar na história afirma o nosso lugar no mundo como cidadãos globais negros africanos, líderes e pacificadores. Ele é o exemplo definitivo de governança africana, boa liderança e diplomacia.

Eu sou grata por ter vivenciado, como uma jovem adulta, a transição do apartheid na África do Sul a um jovem governo democrático. Lembro-me de ter ido às manifestações anti-apartheid com minha mãe em meados dos anos 1980. Foi o primeiro ensinamento que me lembro ao ver a responsabilidade coletiva que tivemos na diáspora para lutar pela justiça, liberdade e paz na África.

Por causa de Nelson Mandela, aprendi sobre direitos humanos a partir da perspectiva africana. Foi mais profundo do que a independência de nossos colonizadores, foi sobre o direito de se mover, associar, pensar, falar e contribuir livremente para o bem estar de seu país de modo que se possa ter uma vida melhor. Para mim a vida de Mandela representa a essência da liberdade da África – o direito de todas as pessoas serem ouvidas, organizar, falar, discordar, viver em segurança, paz e justiça.

"Coragem não é a ausência de medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas quem vence esse medo. "– Nelson Mandela

Nelson Mandela nos lembra da capacidade da África de perdoar e aceitar o outro, transformar a luta contra o inimigo em uma parceria para a coexistência. Sua mensagem nos leva a olhar o interior e nos esforçarmos para sermos melhores de modo que possamos verdadeiramente servir aos outros. Mais importante ele simboliza a sabedoria e a vontade que os líderes devem ter para aceitarem a mudança transformadora que cada pessoa é obrigada a passar.

Muitas vezes, muitos de nós sabemos o que está por vir para a África e seu povo. Nós pensamos sobre as fortunas do continente e os infortúnios, projetando maneiras de criar um melhor caminho cheio de promessa e progresso para todos. Finalmente, chegamos a pergunta de 64 milhões de dólares – o que Mandela fez? Como podemos aprender com ele? Mais importante: o que podemos fazer para desenvolver mais líderes como ele?

Eu chamo essas perguntas de meus “Momentos Mandela”, esses momentos inegáveis, inabaláveis de relação e reflexão onde nós revisamos a história da África do Sul e tentamos tirar lições do estilo humilde de visão e liderança de Mandela. Independentemente da causa, país, sistema de valor ou familiaridade com a África, praticamente o desafio de qualquer um pode ser resolvido de alguma forma, olhando para trás para ver como Mandela enfrentou um desafio similar.


Momentos Mandela para a África

A vida de Mandela, todos os 94 anos dele, refletem um período notável de uma transição após a outra. Sessenta anos de compromisso com a justiça e a paz assumiram várias formas. De um organizador que se tornou prisioneiro, para um líder político que se tornou o primeiro presidente negro, a um antigo líder e diplomata experiente, sua visão de sociedade livre, justa e igualitária nunca vacilou. Para a África há muitos Momentos Mandela onde podemos aprender.

"A paz é a maior arma para o desenvolvimento que qualquer pessoa pode ter." – Nelson Mandela

Na Paz e Resolução de Conflito: Mandela é a prova de que a paz é um processo contínuo que existe muito antes, durante e após os acordos serem assinados e prêmios serem concedidos. É a busca comum e verdadeira de um mundo mais igualitário, justo, tolerante e seguro com o outro.

A paz sobrevive quando as pessoas estão dispostas a levá-la e cultivá-la com o inimigo, independente dos obstáculos. Mandela nos mostrou que a paz não pode vir de influência ou forças externas. Ela deve vir do indivíduo, quando o coração e a mente estão desprovidos de interesses pessoais, queixas ou egos e totalmente comprometido com a paz e a coexistência. Após este compromisso pessoal, Mandela nos ensinou que a paz é alcançada e mantida quando os inimigos escolhem a convivência sobre a guerra ou insegurança. Quando eles escolhem o perdão e a reconciliação, juntamente com pedidos de justiça.

“Uma das coisas que aprendi quando estava negociando era que até eu me mudar, eu não poderia mudar os outros.” – Nelson Mandela

Em Liderança e Governança: Sabemos ao assistir muitos anos de Mandela no ANC, em sua subsequente prisão e, finalmente, como o primeiro presidente negro do país, que a liderança e a boa governança devem existir em todos os níveis para a mudança sistêmica.

A liderança deve ir além da definição de uma pessoa ou visão partidária. A boa vontade de Mandela em trabalhar além das linhas partidárias e sentar-se com o inimigo nos dias pós-apartheid era extremamente arriscada, humana e tolerante. Muitos sentiram que ele tinha abandonado a luta e desistido. Suas ações mostraram que a liderança real é colaborativa, coletiva e abrangente – exatamente o oposto de autoridade, abordagens corruptas ou inflexíveis. É ter foco firme no objetivo comum com perdão, flexibilidade, inclusão e visão para se ajustar às condições humanas.


Em Desenvolvimento: Para os negros sul-africanos, o apartheid representou mais que uma forma institucionalizada de racismo e subjugação. O apartheid era também uma vida de pobreza sistêmica, guerra econômica, negação dos direitos humanos básicos e sofrimento em massa de milhões de negros africanos.

Mandela viu o nexo entre o direito das pessoas para reunir, organizar e gozar plenamente os direitos políticos e econômicos. A prosperidade e a liberdade de um grupo dependem da prosperidade e liberdade do outro. Ele sabia que o governo não poderia melhorar a vida do distrito, ou criar empregos, ou buscar o desenvolvimento nacional em longo prazo, se não reconhecer o direito dos sindicatos de trabalhadores negros, estudantes, mulheres e outros grupos marginalizados para reunir, participar e se engajar com o governo. O desenvolvimento, a prosperidade e a proteção de todos os direitos humanos estavam interligados.


No Poder: Em minha opinião, o maior ato de Mandela como presidente foi o dia que ele optou por deixar. Não porque ele deveria ter se afastado, mas porque nesse gesto ele demonstrou tal visão e sabedoria, que injetou mais fé no processo político do país e do sistema, do que na capacidade de um homem para liderar. Depois de um mandato, apenas cinco anos, Mandela abriu caminho para seus sucessores e focou em servir seu país pela vida cívica. Ele sabia que a nova vida da África do Sul como um país livre necessitava de respirar e crescer. Ele precisava de uma nova vida com mais foco na próxima geração de líderes.

Há muitos ‘Momentos Mandela’ para aprender, mas neste Dia Mandela eu mantenho isso como, talvez, as maiores lições que ele me ensinou. O mundo é um lugar muito mais seguro, amoroso e tolerante por causa de Madiba. Somos eternamente gratos.

Feliz Aniversário, Madiba!
18 de julho, 2012.

Semhar Araia é a fundadora e diretora executiva da Rede Diáspora de Mulheres Africanas. Ela já trabalhou para The Elders, uma organização fundada por Nelson Mandela, Arcebispo Desmond Tutu, Graca Machel, Kofi Annan e dez outros líderes mundiais, entre 2007 e 2008.
Por Semhar Araia
Versão em Português: Mônica Brito

segunda-feira, 23 de julho de 2012

‘The Financial Times’ e ‘The Economist’ trazem as leis de transparência


As principais publicações de negócios no ‘The Financial Times’ e no ‘The Economist’ recentemente manifestaram seu apoio às leis de transparência em ambos os lados do Atlântico que irão ajudar a reduzir a corrupção nos países em desenvolvimento e aumentar os recursos gastos na redução da pobreza. Eles se juntam às vozes de 180.000 membros ONE que pediram aos responsáveis políticos a permanecerem firmes contra o lobby por um pequeno grupo de empresas de petróleo e mineração que querem manter em sigilo o status quo (você ainda pode assinar a nossa petição http://act.one.org/sign/trillion_dollar_scandal/).
Em seu editorial ‘The Financial Times’ escreve:
“Nos últimos dois anos, o Congresso dos EUA e a Comissão Europeia agiram corajosamente para esclarecer que a nebulosidade dos pagamentos de recursos naturais feitos por companhias aos governos em torno do mundo estejam pouco claros. Esforços de lobby com vista a neutralizar esse progresso em ambos os lados do Atlântico não devem ser autorizados a progredir.”
‘The Economist’ adotou uma linha similar. Em um artigo destacado de 11 de fevereiro escreveu:
“As empresas de mineração... devem apoiar os esforços ocidentais para impor uma maior transparência sobre a indústria. Isso vai afastar pelo menos alguns dos vaqueiros e tornar a concorrência mais aberta. Hora de ficar do lado do xerife.”
Ambas as publicações têm destacado o quanto é importante que as leis propostas pelos EUA e União Europeia estejam aptas para o efeito, e forneçam informações que realmente fortaleçam a sociedade civil nos países em desenvolvimento para manter seus líderes políticos responsáveis pela receita recebida. ‘The Financial Times’ escreve:
“Muitas empresas extrativas estão felizes em viver com [divulgação pública], mas as mais
persistentes demandam mudanças. Em ambos os lados do Atlântico a luta é para reformular as regras de informação de modo que tudo o que é publicado é menos informativo. Em particular, sugere-se que as leis chamadas para relatar detalhes projeto por projeto sejam diluídas com as definições excessivamente amplas de “projeto”. Não há justificativa para isso: a maioria dos pagamentos para os estados são calculados com base no projeto de qualquer maneira, assim a publicação de tal detalhe não ser grande fardo.”

Eles estão certos que agregando pagamentos em nível de país não produza os mesmos benefícios em termos de prestação de contas. Se apenas os pagamentos de US$1 milhão foram divulgados – algo que as empresas extrativas estejam fazendo lobby para – comunidades locais serão excluídas do acesso a todas as informações relevantes para projetos em sua vizinhança.
‘The Economist’ também examinou a alegação de que regras de divulgação seriam contravenção da lei nacional em alguns países, mas achamos que:
“Empresários lutam para produzir exemplos de como as restrições locais para a publicação de
detalhes confidenciais de contrato poderiam colidir com os requisitos de transparência em outro lugar. Contratos de países em desenvolvimento geralmente têm uma cláusula permitindo divulgações que são exigidas pelo país de origem da empresa e pela bolsa de valores. Nem uma maior divulgação parece prejudicar a competitividade. Em 2011, Angola atribuiu várias novas concessões petrolíferas em águas profundas para empresas cobertas pelo Dodd-Frank. Nenhuma empresa de petróleo até agora cita maior abertura como um risco material em seus arquivos junto à SEC.”

Este pico de atenção sobre esta questão a partir de líderes mundiais em meios financeiros mostra o
exame minucioso sobre os EUA e o processo legislativo da UE. Enfraquecer detalhes importantes irá minar os esforços para reduzir a corrupção e acabar com a ‘maldição dos recursos naturais’. Tanto ‘The Financial Times’ como ‘The Economist’ – conhecido por sua cobertura favorável às empresas – têm olhado para a evidência e concluíram que essas leis são boas para os interesses de longo prazo das empresas e boas para o desenvolvimento econômico nos países pobres. Essa é uma fórmula vencedora que os responsáveis políticos devem agora prestar atenção.
Por Joseph Powell
Versão em Português: Monica Brito

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Petição - Crise Alimentar na Região do Sahel


Resumo:
Mais de 18 milhões de pessoas na região do Sahel (África Ocidental e Central) estão enfrentando uma terrível escassez de alimentos. O mundo sabe como parar esta crise cíclica, mas ainda permite que se repita.
Seis países da região já tem projetos aprovados de longo prazo para dar às pessoas e  suas famílias as ferramentas necessárias para tirá-las da fome e pobreza extrema. Alguns dos países mais poderosos do mundo se comprometeram a financiar esses planos. Mas a menos que ajam imediatamente, esses planos vão acumular poeira.


1.  Leia a petição:

Caros Líderes Mundiais,
Ao financiar o urgente Apelo Humanitário da ONU para a região do Sahel, por favor também apoiem seus planos de investimento de longo prazo em Agricultura, para ajudar a acabar com o ciclo de crise.


Versão em Português: Li Lima


segunda-feira, 16 de julho de 2012

A Democracia do Senegal enfrenta o teste do tempo

Este post foi publicado originalmente no ONE Africa Blog - você pode acompanhar todas as últimas notícias da eleição da África seguindo @ONEinAfrica . 
Senegal tem sido celebrado como um oásis de paz entre seus vizinhos repletos de golpes na África Ocidental. No entanto, com a recente onda de violência que abalou Dakar antes das eleições presidenciais de domingo, muitos começaram a se perguntar se poderia Senegal estar à beira de perder sua reputação como a democracia mais estável da África. Os manifestantes estão em pé de guerra contra o anti motim da polícia no centro da cidade de Dakar, por pouco parando os negócios e com dezenas de feridos relatados.

O conflito é baseado na proposta do Presidente Wade para um terceiro mandato. Os partidos de oposição dizem ter votos para provocar o caos, caso o titular de 85 anos ganhe a eleição. Seu ponto de discórdia reside no fato de que a Constituição claramente proíbe o Presidente Abdoulaye Wade de concorrer nas eleições deste ano. Alguns membros de oposição estão pedindo um adiamento da eleição dizendo que seria impossível realizar uma eleição livre e justa no Senegal.

O Presidente Wade, por outro lado, vê as coisas de forma muito diferente. Ele argumentou que a Constituição que ajudou a alterar para limitar a dois os mandatos presidenciais, entrou em vigor depois que ele estava no poder e, portanto, ainda era tecnicamente legal para ele concorrer a outro mandato. O partido governista descartou a possibilidade de alterar as datas das eleições. A não ser que algo drástico aconteça, o Senegal está, portanto, definido para as eleições no dia 26 de fevereiro.

No meio de tudo isto, a União Africana nomeou o ex-presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo, para chefiar sua delegação antes da eleição do domingo. Obasanjo foi citado no sentido que ele está pronto para ir além da simples observação das eleições à mediação caso seja necessário.

O Presidente Obasanjo diz que já se reuniu com o presidente Abdoulaye Wade e vários membros da oposição incluindo Ousmane Tanor Dieng, Youssour N'dour e Alioune Tine. Jornais senegaleses também relatam que ele se reuniu com o presidente do tribunal constitucional, o corpo jurídico que tem a palavra final sobre as disputas eleitorais. Foi o tribunal que desqualificou Youssour N'Dour, um dos músicos mais famosos da África, por discordar. E foi também o tribunal que decidiu que Wade poderia se candidatar a um terceiro mandato, no argumento de que ele foi eleito antes da nova Constituição, incluindo limites de prazo que entraram em vigor.

Os observadores internacionais, incluindo a UE e os EUA, pediram a restrição e desejaram uma eleição pacífica, livre e justa. No final do dia, como a Análise da África diz, qualquer que seja o resultado, o modelo de democracia de Senegal esta semana está definido para enfrentar um severo exame que quer quebrar a orgulhosa tradição ou deixá-lo ainda mais forte. Muitos esperam o último.

Por Wangui Muchiri
Versão em Português: Monica Brito

terça-feira, 10 de julho de 2012

Pontos positivos da Rio +20 - reconhecendo o acesso à energia como crucial para o desenvolvimento


Infelizmente a liderança internacional nega o fracasso na Convenção das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Rio +20. Num mundo de crescente desigualdade e pressão insustentável sobre os recursos naturais do nosso planeta - ambos estão a enfraquecer o crescimento econômico e a redução da pobreza- líderes governamentais e organizações da sociedade civil igualmente afirmam que os resultados da Rio+20 carecem de uma visão forte.

No entanto, quando os líderes se reúnem para aprovar o texto final, devemos reconhecer que nem tudo foi um fracasso. Devemos ter a certeza de tomar os aspectos positivos da Rio +20 e edificar a partir deles. Por exemplo: é uma grande notícia que a comunidade internacional reconhecerá e apoiará o direito de todos à água potável e instalações sanitárias. Os líderes também se comprometem a proteger, restaurar a saúde, produtividade e recuperar oceanos e os ecossistemas marinhos para as gerações presentes e futuras.

Em matéria de energia - enfoque especial para ONE - os governos reconhecem a importância central do acesso à energia para o desenvolvimento; observando que o acesso a esses serviços são essenciais para a inclusão social e igualdade de gênero. Este reconhecimento é um passo a frente, pois a questão do acesso à energia foi negligenciado por muito tempo pela comunidade internacional.

Este reconhecimento também é amparado pelo anúncio feito pelo Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, que mais de cem compromissos e ações já foram mobilizados em apoio  a Iniciativa da Energia Sustentável para Todos (Link em inglês: Sustainable Energy for All - SE4ALL). Os compromissos assumidos pelas empresas do setor privado, organizações da sociedade civil e os governos procuram alcançar o acesso universal  a energia até 2030, bem como duplicar as quotas das energias renováveis e a taxa de melhoria da eficiência energética.

Os compromissos assumidos neste anúncio incluem mais de 23 feitos pelas nações africanas. Outros compromissos importantes incluem: o Banco Africano de Desenvolvimento investirá 20 bilhões de dólares em energia até 2030, empresas e investidores prometem mais de 50 bilhões de dólares para as metas da SE4ALL, o Brasil investirá mais 235 bilhões de dólares em dez anos em energias renováveis​​, a União Europeia proverá acesso a serviços de energia sustentáveis ​​para 500 milhões de pessoas até 2030 e a d.Light Design compromete-se a fornecer lâmpadas solares para 30 milhões de pessoas em mais de 40 países até 2015.

O diretor de Política Global da ONE, Ben Leo, saudou os compromissos e o anúncio. Ele disse:
"A falta de acesso a energia limpa, confiável e acessível prende milhões na pobreza e limita o crescimento e desenvolvimento. Apesar de termos as soluções que podem aumentar o acesso à energia, até agora, a liderança política sobre esta questão tem falhado. O anúncio feito pelo Secretário-Geral é, portanto, muito bem-vindo, especialmente por que os compromissos assumidos até a data no campo de atuação da SE4ALL devem beneficiar mais de 1 bilhão de pessoas. "

Claro que isto é apenas o primeiro passo. É essencial que os compromissos assumidos no Rio sejam transformados em ações concretas que alcancem os cidadãos africanos e do mundo .... Isto não será fácil.
Governos devem ser responsabilizados e trabalhar junto aos doadores, empresas e sociedade civil. Isto será de grande importância para garantir o acesso universal a energia limpa e confiável. Nenhum grupo será capaz de conseguir isto sozinho, é apenas através de ação colaborativa e inclusiva que veremos o fim de uma época em que 7 a cada 10 cidadãos da África subsaariana vivem sem eletricidade. A ONE trabalhará duro para garantir isto.

Por Tom Wallace
Versão em Português: Li Lima

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O ativista de direitos humanos guiné-equatoriano Tutu Alicante fala contra a corrupção

Ao longo dos últimos meses, a ONE tem se tornado muito interessada nos assuntos do governo da Guiné Equatorial, um pequeno país de língua espanhola na costa ocidental da África. O país, que abriga reservas de petróleo consideráveis, é um dos mais ricos do continente, mas também tem distribuição mais desigual de riqueza. Cerca de 70 por cento do país vive abaixo da linha da pobreza, enquanto os detentores do poder estão vivendo uma vida de incrível opulência.
A causa para essa disparidade é, inquestionavelmente, a corrupção; especificamente, nos extrativos (petróleo, mineração, gás, etc.) da indústria. Para saber mais sobre esta questão na Guiné Equatorial e além, falamos com Tutu Alicante, um advogado guiné-equatoriano de direitos humanos e diretor executivo da EG Justice (Link em inglês EG Justice), uma ONG dedicada ao combate à corrupção na Guiné Equatorial. Você pode reconhecer o seu nome através do nosso e-mail no início de nossa campanha transparência de extrativos, onde ele expressou sua indignação frente empresas que negam a milhões a chance de escapar da pobreza extrema.
Em nossa entrevista, ele fala sobre como começou na atividade anticorrupção, da travessura do Presidente Obiang da Guiné Equatorial e como os membros da ONE podem se envolver mais na promoção da transparência.


Como você começou?
Eu cresci na Guiné Equatorial e assisti uma série de coisas horríveis. Em 1993, houve um incidente em Annobón, minha cidade natal, onde dois jovens foram mortos e vários homens foram severamente torturados. Muitos jovens correram para a floresta com medo, inclusive meu primo. Quando o governo não conseguiu encontrá-lo, queimaram a nossa casa.Eu tive uma conversa com meu pai quando lhe perguntei o que deveríamos fazer, e ele disse que não havia nada que pudéssemos fazer. Como um homem jovem aquelas eram palavras chocantes, que o governo poderia simplesmente fazer o que quisesse – com absoluta impunidade – e não haveria nada que você pudesse fazer. Eu vim para os EUA um ano depois, pensando que eu me tornaria um jornalista. Mas durante a faculdade, quando o petróleo foi descoberto na Guiné Equatorial, percebi que o petróleo ia ser fundamental para o futuro do meu país. Eu queria saber o que aconteceria com as receitas desse recurso natural, sabendo que ia criar uma fissura econômica, política e social. Então, tornei-me um advogado, pensando que a lei me daria ferramentas para defender o Estado de Direito, os direitos humanos e a transparência.


Pode nos falar um pouco mais sobre a ideia de “acordos secretos” entre empresas petrolíferas e governos? Acho que para muitos americanos, isso aconteceu um pouco como surpresa.

Quando o petróleo é encontrado em um lugar como Guiné Equatorial, o governo assina um acordo com empresas multinacionais de energia para explorar, produzir e distribuir o óleo. Como parte do contrato, as empresas de energia são obrigadas a fazer vários pagamentos ao governo do país de acolhimento; incluindo pagamentos de bônus, royalties, impostos nacionais e vários outros tipos de taxas.Em países com tradição regular do Estado de Direito, e controles e balanços, esses pagamentos são contabilizados e feitos de forma transparente. No caso da Guiné Equatorial, no entanto, onde o presidente e sua família estão acima da lei e não fazem distinções entre o Estado e suas contas pessoais, informação a respeito de pagamentos é mantida em segredo. Então, pessoas - incluindo parlamentares – hoje não sabem quanto petróleo está sendo produzido, ou quanto está sendo coletado em receitas.


A ONE tem acompanhado as travessuras do Presidente Obiang já há algum tempo. Ele nunca o deixa completamente louco? Por que os cidadãos da Guiné Equatorial não fazem nada sobre isso?
Ele não me deixa louco. Eu não deixo as coisas dentro do meu controle me enlouquecer. O governo de Obiang chegou a representar o sigilo e as violações dos direitos humanos, mas essas são questões que nós da Guiné Equatorial e a comunidade global saberão como resolver. GE, tão ruim quanto é, não é o único caso de corrupção sistemática e impunidade. Regimes similares na Líbia e no Egito foram derrubados, e outros, como na Birmânia, parecem estar se movendo na direção certa, e é por isso que ele não me deixa louco.

Na medida em que a corrupção prossegue, você tem observado mudança na GE para melhor ou pior? Por quê?
Até agora, a Guiné Equatorial tem piorado. A razão de ser quando você tem um país pequeno, com recursos limitados, em que a maioria das pessoas é pobre e a corrupção é sistemática, a quantidade de dano que a corrupção causa é comparativamente pequena. Mas, quando você tem um país com PIB per capita comparável ao Reino Unido ou Alemanha, e ainda uma família que mal administra toda essa riqueza, a disparidade ou desigualdade logo se tornam uma das partes criminais. Corrupção, neste contexto posterior, tem um cumulativo que não pode e não deve ser ignorado.Estamos falando de funcionários do governo que estão tomando milhões de dólares por meio de extorsão e subornos e afirmam que a lei autoriza. Estamos falando também sobre funcionários do governo cuja posição depende de sua inquestionável lealdade para a família presidencial. Até que nós, o povo da Guiné Equatorial, percebamos que a corrupção está prejudicando todos nós, a família presidencial e seus comparsas vão continuar a praticá-la.

Como pode ativistas internacionais, como os nossos membros ONE, ajudarem a melhorar a transparência na GE para além de assinar nossa petição?
Nós precisamos que a comunidade mundial colabore. Nós não podemos resolver sozinhos este problema. De longe a coisa mais importante que você pode fazer é ser voz em suas comunidades. As autoridades governamentais nos EUA são sensíveis a você como os seus constituintes e se você fizer da transparência global na indústria extrativa uma agenda de prioridades para eles, então você estará ajudando a resolver problemas de pobreza e desigualdade em lugares distantes como a Guiné Equatorial.

Então, nós temos mais de 130.000 assinaturas na nossa petição transparência de extrativos. Como isso faz você se sentir?
Eufórico, extremamente feliz. Precisamos de todo o apoio que podemos obter para começar a fazer da transparência extrativa uma pedra angular das relações internacionais, política externa e comércio global. Eu realmente agradeço a ONE por escolher este tema, por trazê-lo a atenção de seus partidários em todo o mundo.

Qual é a coisa mais interessante que as pessoas precisam saber sobre a corrupção como um fenômeno?
Corrupção é mais do que dinheiro e estilos de vida luxuosos. Trata-se de seres humanos. Costumo dizer a história de uma irmã que morreu quando tinha 21 anos, no hospital central de Malabo - capital da Guiné Equatorial - sem a presença de médico, de medicamento necessário que poderia tê-la salvo ou eletricidade. Igualmente, um primo, três anos mais jovem que eu, morreu da mesma forma. Quase todas as famílias no meu país podem contar essa história sobre um parente. E, para mim, isso é um problema, a corrupção. Quando o dinheiro que deveria ser usado para garantir aos povos a dignidade básica e a vida é desviado para comprar mansões, jatos particulares e carros de luxo, os seres humanos morrem. A corrupção tem um preço tremendo.
Fique em contato com Tutu Alicante no Twitter em @EGJustice. E tome medidas pedindo aos líderes europeus para enfrentarem o lobby empresarial contra as leis propostas da UE que obrigam as empresas de petróleo, gás e mineração a publicarem os pagamentos aos governos estrangeiros. 
Por Malaka Gharib
Versão em Português: Monica Brito