sexta-feira, 19 de julho de 2013

De cair o queixo, estatística vira a cabeça

Crianças na Escola Mawango em Malawi comendo um lanche matinal de mingau, apoiado pelo Programa Alimentar Mundial. Foto: Morgana Wingward
Não é sempre que eu leio uma estatística que faz o meu queixo cair e virar a minha cabeça. Hoje, eu li.

A eminente revista médica britânica The Lancet divulgou um novo estudo sobre a nutrição infantil e materna. No relatório a descoberta mais chocante: estamos (absolutamente) errados sobre a desnutrição. Sim, sabíamos que a desnutrição é um grave problema em todo o mundo em desenvolvimento. Sim, sabíamos que a mesma rouba de milhões de crianças vidas e futuros produtivos. Mas o que não sabemos é o quanto ruim ela realmente é.

Hoje nós aprendemos que o flagelo da desnutrição é uma ameaça muito maior para a vida das crianças do que jamais imaginamos. Acontece que chocantes 3.1 milhões de crianças morrem a cada ano por causa do problema básico de desnutrição. Isso representa 45% de todas as mortes de crianças menores de 5 anos de idade, e não um terço do previamente entendido. Em outras palavras, a desnutrição é responsável por mais de 600.000 mortes de crianças, a cada ano, do que imaginávamos.

Em cima disso, para as crianças que conseguem sobreviver à desnutrição em seus primeiros anos, 165 milhões vão crescer atrofiadas como resultado. Isso significa que o seu crescimento, a capacidade de aprendizado, o desenvolvimento cognitivo, o rendimento futuro e a produtividade são prejudicados – pelo resto de suas vidas. E isso também significa que o desenvolvimento do capital humano e de países inteiros é sabotado.

O que é tão chocante sobre essa estatística é a sobreposição do que os doadores estão contribuindo agora para a luta contra a desnutrição. A ajuda total global de nutrição básica no ano passado foi de apenas $418 milhões de dólares, ou apenas de 0,4% de toda a ajuda estrangeira. Como pode ser isso, quando a desnutrição atinge milhões de vidas e afeta crianças e mães mais pobres do mundo?

Felizmente, há uma boa notícia – e na hora certa. Os autores de Lancet descobriram que milhões de vidas infantis podem ser salvas, a cada ano, se um conjunto de 10 comprovadas intervenções nutricionais forem ampliadas. Isso não é fácil e custa dinheiro – US$ 3-4 bilhões/ano dos doadores, de acordo com o novo estudo. Mas nós temos a evidência e as soluções. O que precisamos agora é a vontade política dos líderes para, finalmente, resolver esta crise de nutrição.

No Evento Nutrição para o Crescimento em Londres, o Primeiro Ministro David Cameron e o Governo do Brasil chamaram esses líderes, chefes de Estado, Diretores Executivos e chefes de fundações e organizações da sociedade civil para fazerem promessas ousadas para financiar a luta. As últimas notícias do The Lancet devem acrescentar urgência às suas chamadas e devem desencadear uma ação ainda mais ambiciosa.

350.000 membros da ONE demonstraram o seu apoio assinando nossa campanha Revolução Alimentar Global
Os líderes mundiais precisam intensificar os esforços. O momento para agir é agora.

Por Molly Kinder
Versão em Português: Mônica Brito

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