quarta-feira, 8 de maio de 2013

É assim que a África vai parecer em 2033?


Mike Drachkovitch, gerente de marketing e relações exteriores da ONE, entrevistou um dos criadores da revista e marca que está desafiando a compreensão aceita da África. Fotos: AITF

Parte revista conceitual, parte empresa de roupas, ÁFRICA É O FUTURO, ou AITF, é mais um projeto criativo em constante evolução e em viagem no tempo que qualquer outra coisa.

Isto é exatamente o que o cofundador e diretor de criação, Nicholas Premiere, tinha em mente. Nicholas nasceu na França, filho de uma francesa com um congolês. Ele e seu sócio Patrick Ayaman lançaram a AITF com uma importante visão em mente: mudar a forma como você pensa e fala sobre a África.

Achamos que ele tem feito exatamente isso.

Diga-me como você chegou a fundar a AITF e a equipe atrás dela?
A primeira camiseta com o slogan: “AFRICA IS THE FUTURE", foi estampada em 2002. Nesta época eu também estava exibindo uma série de retratos pintados caracterizando o povo congolês que havia conhecido um ano antes em Brazzaville. Quase todos os modelos olhavam para o espectador diretamente nos olhos. Foi importante, para mim, mostrar africanos orgulhosos que estão conscientes de si mesmo. Juntamente com essa série de pinturas, trabalhei em diferentes slogans que foram inspirados pelos movimentos dos direitos civis com conteúdo atualizado. Entre todos esses slogans existiu o “AFRICA IS THE FUTURE”.

O centro cultural que organizou uma de minhas exposições se ofereceu para estampar minhas camisetas para a abertura. Eu escolhi para impressão [AFRICA IS THE FUTURE] em 30 camisetas. Mas foram dois anos mais tarde quando a AITF nasceu. Havia outra exposição, outra abertura, onde pelo menos 10 amigos vieram com a famosa camiseta que conduziram ao público falando a respeito do slogan, seu significado e a África.


Eu e meu amigo Patrick ficamos surpresos com toda a repercussão que as camisetas causaram. Tínhamos novos ângulos, perspectivas e meios de falar sobre a África. Queríamos que isto acontecesse de forma mais ampla e com mais frequência, então reestampamos mais camisetas! Nos últimos anos geramos discussões de outras maneiras que as camisetas e a Revista AITF são os mais recentes exemplos disso.

Vamos falar sobre o site. Estou intrigado com o teaser: todas as coisas que você quer saber sobre a AITF e nunca teve oportunidade de perguntar. Então, clicando, diz: agora você sabe. Qual foi o seu raciocínio por trás disso?
Quando estampamos as primeiras camisetas com o slogan ÁFRICA É O FUTURO, não queríamos que as pessoas identificassem claramente quem estava por trás disso e por quê. Fizemos isso porque queríamos que as pessoas pudessem avaliar o seu próprio espírito crítico para elaborar o seu próprio significado para o slogan. Não queremos interferir nesse processo. Nosso único objetivo era trazer a África, a partir de uma perspectiva incomum e estimulante, como um assunto principal das discussões cotidianas.

Agora você sabe que não existe verdade oculta ou mágica secreta por trás da AITF – é um trabalho criativo que é crucial, mas certamente não suficiente para que possamos solucionar tudo. Não pretendemos mudar o Mundo ou a África.

Você também mencionou em sua página web como questões da AITF, como mundo é contado para nós e renova a maneira como a África está representada. Na sua visão, como é esse mundo contado e qual é a imagem da África que você está renovando?
Até que os leões tenham os seus próprios historiadores, a história vai sempre glorificar o caçador. Meu objetivo não é comparar a África aos leões, mas destacar o fato de que existe um ponto de vista predominante nos meios de comunicação e na indústria cultural. Não tem nada a ver com objetividade – são as relações globais de poder refletidas em imagens. A Revista AITF, com seu conteúdo ficcional, exige que o leitor se pergunte questões do por que tudo que parece evidente é invertido. Particularmente a imagem tradicional da África na mídia: pobres, doentes, flagelados pela guerra. Ao dar a África o papel principal, a Revista AITF coloca o continente em uma posição próxima a dos EUA hoje

Sua revista é publicada 20 anos a partir de agora em 2033. Por que você escolheu 2033?
A única razão para a revista ser datada em 2033 é para significar que não é o mundo real. O mundo de AITF terá sua própria temporalidade, sua própria lógica... Não será uma perfeita reflexão do mundo real. Nosso objetivo não é prever o futuro, mas, se possível, criar ferramentas para pensar o mundo de forma diferente, trocando/mudando ideias preconcebidas.

E sobre a Addis Abeba Panthers?
A Addis Abebda Panthers é o maior time de futebol do mundo em 2033. Para sua informação, desde que eles recrutaram Etuna Ndakolo, eles ganharam vitória atrás de vitória. Além disso, Ndakolo destronou o velho Messi em muitos recordes!

Sua marca utiliza algumas imagens atemporais e trabalho de design. Conte-nos a sua visão criativa por trás dos termos visuais da AITF.
É sobre a estética dos anos cinquenta, que corresponde ao crescimento econômico pós-guerra dos EUA e a promoção mundial do modo de vida americano. Este período de tempo é um cenário perfeito, pois seus códigos de representação estão fortemente enraizadas no inconsciente coletivo e o impacto é maior quando desviado.

E sobre os Doutores U.R. para América – uma criança americana vacinada no quintal da Virgínia?
Recursos mundiais de petróleo se esgotaram, mas o Grupo Africano de Energia descobriu novos campos de gás de xisto na América, que é uma boa notícia para a África. Nós não podemos dizer o mesmo da América porque o continente desperta cobiça. Como dèja vu, várias guerras civis surgem onde uma reserva é descoberta.
Serviços públicos, especialmente assistência médica e educação, são os mais afetados por esses problemas. Doenças endêmicas como meningite ressurgem. Tocada pela situação de crianças e civis, uma associação de médicos africanos voluntários viaja a América para resgatá-los.

Qual é o seu processo criativo?
Como qualquer projeto criado é complexo. Não posso dizer exatamente, porque eu não tenho a fórmula mágica. Trabalho o tempo todo. Uso muitos cadernos de notas. Escuto, olho, ando, inalo, exalo. Tento estar conectado ao fluxo, pois tudo vem dele.

Uma das estatísticas que acho mais interessante sobre a África é que 65% dos africanos estão abaixo de 35 anos. Eu não poderia ajudar, mas acho que a AITF está tentando se conectar com essa promissora e transformadora geração. Por quê?
Nos conectamos a próxima geração do mundo porque ela é, por definição, o futuro. A maneira como vemos o mundo determina o que fazemos nele. Isso é muito importante para deixarmos apenas a mídia e a indústria cultural abrir os olhos da juventude!

Finalmente, se você pudesse compartilhar uma mensagem com os novos e antigos membros da ONE, o que seria?
Pense por si mesmo.

Muito obrigado ao Nicholas por compartilhar suas ideias conosco. Visite o site e diga-nos o que você achou.

Por Convidado Blogger
Versão em Português: Fernanda Alves

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